A biodiversidade deve ser tratada mais a sério
como um recurso global, para ser indexado,
usado e, acima de tudo, preservado.
(Wilson,1988)
(Wilson,1988)
O uso da palavra biodiversidade é relativamente recente, o termo diversidade biológica foi criado por Thomas Lovejoy em 1980, ao passo que a palavra biodiversidade foi usada pela primeira vez pelo entomologista E. O. Wilson em 1986, num relatório apresentado ao primeiro Fórum Americano sobre a diversidade biológica, organizado pelo Conselho Nacional de Pesquisas dos EUA (National Research Council, NRC). A palavra "biodiversidade" foi sugerida a fim de substituir diversidade biológica, expressão considerada menos eficaz em termos de comunicação (Franco, 2013). Mas a biodiversidade é muito antiga. A diversidade biológica de hoje é o produto da longa e lenta evolução dos primeiros organismos vivos conhecidos que datam de há cerca de 3,5 bilhões de anos (Wilson,1988). A biodiversidade é o tecido vivo do nosso planeta.A palavra biodiversidade, resulta da conjugação das palavras "bio" (vida) e "diversidade" e geralmente se refere à variedade e variabilidade da vida na Terra, isto é, inclui todos os organismos, espécies e populações, a variação genética entre estes e as relações dentro das comunidades e ecossistemas. Contudo o termo é entendido de forma diversa consoante o grupo profissional ou social que o interpreta o que pode levar a confusão (Araújo, 1998) (Millennium Ecosystem Assessment,2005). Em taxonomia a biodiversidade refere-se tanto ao número de diferentes categorias taxonómicas quanto à abundância relativa dessas categorias. Já, em ecologia o conceito de diversidade é fundamental, mas não há consenso quanto à forma como deverá ser medida. O conceito de diversidade ecológica associado a espécies comporta duas componentes: a variedade ou riqueza específica (refere-se ao número de espécies encontradas) e a abundância relativa ou equidade, refere-se à forma como as abundâncias (número de indivíduos, biomassa, grau de cobertura) estão distribuídas pelas diferentes espécies da comunidade (Araújo,1998). Para Magurran (2004)a diversidade alfa (α) ou diversidade local é o número total de espécies num habitat,a diversidade gama (γ) ou diversidade regional é o número total de espécies observado em todos os habitats, e a diversidade beta (β) é a de mudança de espécies ao longo de um gradiente ambiental provê uma nova perspectiva para o conhecimento de áreas a serem preservadas.
A biodiversidade inclui, assim, a totalidade dos recursos vivos, ou biológicos, e dos recursos genéticos, e seus componentes (Franco, 2013). Possui três grandes níveis interdependentes: diversidade genética - os indivíduos de uma mesma espécie não são geneticamente idênticos entre si, cada indivíduo possui uma combinação única de genes; diversidade orgânica - os cientistas agrupam os indivíduos que possuem uma história evolutiva comum em espécies. Possuir a mesma história evolutiva faz com que cada espécie possua características únicas que não são partilhadas com outros seres vivos; e diversidade ecológica - as comunidades (várias populações de um local) interagem com o ambiente formando ecossistemas, que interagem entre si formando paisagens, que formam os biomas (fig. 1). Quando um ecossistema é ameaçado todas as suas espécies também são ameaçadas (Groombridge,1992). Estudar a biodiversidade significa tentar entender melhor as interações que existem no mundo vivo.
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| Fig.1 - Níveis de diversidade. |
A espécie humana depende da biodiversidade para a sua sobrevivência. Millennium Ecosystems Assessment, 2005 - uma avaliação de quatro anos das Nações Unidas sobre a condição e as tendências dos ecossistemas mundiais, considera que a biodiversidade é fonte de imenso potencial económico por ser a base das atividades agrícolas,pecuárias, pesqueiras, florestais e também a base da indústria da biotecnologia (fabrico de medicamentos, cosméticos, enzimas industriais, hormonas e sementes). Portanto, a biodiversidade possui, além do seu valor intrínseco, valor ecológico, genético, social, económico, científico, educacional, cultural e recreativo. Concluindo , a biodiversidade beneficia as pessoas através dasua contribuição para o bem-estar material e meios de subsistência para a segurança, a resiliência, as relações sociais, a saúde e a liberdade de escolhas e ações (fig. 2) (Millennium Ecosystems Assessment, 2005).
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| Fig. 2 - A biodiversidade é um recurso global. |
A biodiversidade é uma das propriedades fundamentais da natureza por ser responsável pelo equilíbrio e pela estabilidade dos ecossistemas. Ela não é distribuída igualmente na Terra e é , sem dúvida, maior nos trópicos. Quanto maior a latitude, menor é o número de espécies, contudo, as populações tendem a ter maiores áreas de ocorrência. As estimativas da diversidade não microbiana na Terra variam de 2 milhões a mais de 50 milhões de espécies, com grandes incertezas quanto ao número de insetos, fungos, nemátodos e organismos de profundidade (fig.3) (Scheffers et al., 2012).
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| Fig.3 - Número estimado de espécies descritas e a percentagem de espécies totais que representam (baseado em Scheffers et al., 2012). |
Com tamanha importância, é preciso conhecer e evitar a perda da biodiversidade (Millennium Ecosystems Assessment, 2005)! Tanto a comunidade científica internacional quanto os governos e entidades não-governamentais ambientalistas têm alertando para a perda da diversidade biológica em todo o mundo, e, particularmente nas regiões tropicais. A degradação biótica que está afetando o planeta encontra raízes na condição humana contemporânea, agravada pelo crescimento explosivo da população humana e pela distribuição desigual da riqueza. A perda da diversidade biológica envolve aspectos sociais, económicos, culturais e científicos. Os principais processos responsáveis pela perda da biodiversidade são a perda e fragmentação dos habitats; a introdução de espécies e doenças exóticas; a exploração excessiva de espécies de plantas e animais; o uso de híbridos e monoculturas na agroindústria e nos programas de reflorestamento; contaminação do solo, água, e atmosfera por poluentes e as mudanças climáticas (Millennium Ecosystems Assessment, 2005).Sabendo que devido ao impacto das atividades antrópicas a diversidade biológica está a se deteriorar, e a taxa de extinção de espécies está a aumentar, o Princípio da Precaução, aprovado na Declaração do Rio durante a UNCED (Rio-92), estabelece que devemos agir já e de forma preventiva ao invés de continuarmos acomodados aguardando a confirmação das previsões para então tomarmos medidas corretivas, em geral caras e ineficazes (Millennium Ecosystems Assessment, 2005).
Bibliografia:
- Araujo, M. (1998). Avaliação da biodiversidade em conservação. Silva Lusitana 6 (1). Lisboa.
- Franco, J. (2013). O conceito de biodiversidade e a história da biologia da conservação:da preservação da wilderness à conservação da biodiversidade.Universidade de Brasília. Brasília.
- Groombridge, B. (1992). Global biodiversity: status of the earth's living resources. Chapman & Hall. London.
- Magurran, A.F. (2004). Measuring Biological diversity. Blackwell, Oxford.
- Millennium Ecosystem Assessment, 2005. Ecosystems and Human Well-being: Biodiversity Synthesis. World Resources Institute, Washington, DC.
- Scheeffers, B. et al (2012). What we know and don't know about Earth's missing biodiversity. Trends Ecol Evol. Sep;27(9):501-10.
- Wilson, E.O. (1988). The current state of biological diversity In Biodiversity.
