Vivo atualmente na lezíria ribatejana, a cerca de um quilómetro da margem sul do Tejo e passo diariamente por valas e pauis onde a água está coberta por densos mantos verdes de jacintos de água e pinheirinhas ...
AS PLANTAS AQUÁTICAS INVASORAS NO TEJO
A introdução de espécies não nativas ou exóticas potencialmente invasoras tem vindo a aumentar com a intensificação da globalização do trânsito de bens e pessoas e é reconhecida como uma das principais ameaças à biodiversidade sendo a segunda causa de perda de biodiversidade, unicamente superada pelas perdas diretas devidas à destruição de habitats, é responsável por consequências a nível ambiental, socioeconómico e de saúde pública quer a nível regional, nacional e internacional (Marchante et al., 2015; ICN). As espécies exóticas invasoras têm sido uma das principais causas da extinção, especialmente nas ilhas e no habitat de água doce (Millennium Ecosystem Assessment, 2005). A introdução de espécies exóticas é um dos promotores de alterações nos ecossistemas mais importantes em Portugal (Domingos, 2009).
Pela sua dimensão e elevado nível de ocupação humano e pelo carácter internacional, a bacia hidrográfica do rio Tejo é o sistema aquático português onde se regista o maior número de espécies exóticas (fig.1 e fig.2). Devido aos graves impactos causados a existência de espécies exóticas constitui atualmente uma grande preocupação para todas as autarquias limítrofes à bacia hidrográfica do Tejo, desde a fronteira com Espanha até à confluência com o oceano Atlântico (Ferreira, 2017).
Fig. 1 - Infestações por plantas aquáticas na bacia hidrográfica do Tejo (Ferreira, 2017). |
Fig.2 - Principais plantas invasoras em meio aquático da bacia hidrográfica do Tejo (Ferreira, 2017) |
As principais invasoras do Tejo
O jacinto-de-água uma das piores invasoras aquáticas do mundo.
O jacinto-de-água (Eichornia crassipes, Mart. (Solms)) vulgarmente conhecido em Portugal e Angola como jacinto-de-água e, no Brasil, como aguapé, mururé, orelha-de-veado, pavoá, rainha-do-lago, uape e uapê, é uma planta originária da Bacia Amazónica. Tendo invadido mais de 50 países nos cinco continentes, às vezes assumindo sistemas inteiros de rios e lagos (CABI, 2012a) é reconhecido pela União Internacional para a Conservação da Natureza como uma das 100 piores espécies infestantes que existem no mundo. Em Portugal, é uma das 30 espécies de plantas classificadas em decreto lei como invasoras (anexo I do Decreto-Lei n° 565/99, de 21 dezembro) e incluída na lista de espécies que suscitam preocupação na União Europeia, pelo Regulamento (UE) n.º 1143/2014 do Parlamento Europeu e do Conselho de 22 de outubro de 2014 publicado no Regulamento de Execução (UE) 2016/1141 da Comissão, de 13 de julho de 2016. Foi introduzido intencional e involuntariamente, especificamente para ajudar a purificar a água das instalações de tratamento de resíduos e para uso como uma planta de aquário ornamental.O jacinto de água teve efeitos negativos sobre a navegabilidade, a piscicultura, a produção hidroelétrica, a agricultura (entope canais de irrigação e afecta as bombas de extracção de água), a saúde humana e a economia (Millennium Ecosystem Assessment, 2005). Tem implicações importantes para a biodiversidade nativa pois é uma planta, que em 10 ou 12 dias em condições adequadas ao seu crescimento (ausência de predadores, altas temperaturas e a escassez de chuva nos meses de verão), acaba por duplicar a sua biomassa, atingindo o peso por metro quadrado entre 11 e 51 Kg, cobrindo as águas com um espesso e contínuo manto verde de flores roxas e amarelas, provocando uma evapotranspiração 3 ou 4 vezes superior ao normal, o que dá origem a importantes perdas de água, impede a entrada da luz solar, impede a oxigenação da água, aumenta a eutrofização e compete com as espécies autóctones ameaçando a vida em rios e barragens (fig.3) (Marchante et al., 2015; Marchante, 2012).
A pinheirinha de água
A pinheirinha (Myriophyllum aquaticum (Velloso) Verdc), vulgarmente também é conhecida por milefólio-aquático ou pinheirinha-de-água é uma erva aquática de até 2 m, semelhante a um pequeno pinheirinho, com folhas emergentes azul-esverdeadas.
Originária da América do Sul nomeadamente dos estados meridionais do Brasil, Perú, Uruguai Argentina e Chile fora da área de distribuição nativa, reproduz-se apenas vegetativamente por fragmentação mecânicas dos caules e os rizomas são resistentes, viajando longas distâncias agarrados ao fundo de embarcações (CABI, 2012b). Em Portugal, foi introduzida acidentalmente (planta usada em aquariofília) encontra-se em lagoas, valas, linhas de água, pântanos e solos encharcados do Minho, Douro Litoral, Beira Litoral, Estremadura, Ribatejo e Alto Alentejo sendo uma espécie invasora (listada no anexo I do Decreto-Lei n° 565/99, de 21 dezembro). Forma tapetes que podem cobrir totalmente a superfície da água (fig. 4), o seu crescimento reduz a qualidade da água, a biodiversidade, a luz disponível e o fluxo de água, diminui o aproveitamento recreativo das zonas invadidas e pode causar problemas em sistemas de rega e aumenta a incidência de mosquitos (Marchante et al., 2015)
Fig 4. – Tapete de pinheirinha em Muge -Salvaterra de Magos, novembro de 2017 . |
O controlo de uma espécie invasora exige uma gestão bem planeada, que inclua a determinação da área invadida, identificação das causas da invasão, avaliação dos impactes, definição das prioridades de intervenção, seleção das metodologias de controlo adequadas e sua aplicação. Posteriormente, será fundamental a monitorização da eficácia das metodologias e da recuperação da área intervencionada, de forma a realizar, sempre que necessário, o controlo de seguimento.
Como controlar as invasoras...
Programas de controle e erradicação de espécies invasoras ainda são escassos. pois necessitam de grandes investimentos financeiros e, mesmo assim, não há garantia de que possam restabelecer a integridade biológica dos ambientes afetados. Existem já diversas metodologias para combater plantas invasoras e ações imediatas, contudo, aumentam a possibilidades de sucesso no controle e/ou erradicação de espécies invasoras e, certamente, previnem contra maiores gastos. Os programas de erradicação, portanto, devem incluir uma avaliação de risco que inclua uma análise da relação custo-benefício das ações, os impactos ao sistema natural e os impactos sociais e económicos. Cada um de nós pode, para já, sinalizar e mapear plantas invasoras usando o site ou a App para android do sitio http://invasoras.pt .
No futuro, da minha janela quero ver um rio ... mas um rio sem invasoras!!
Bibliografia:
- CABI (2012). Eichhornia crassipes. In: Invasive Species Compendium. Wallingford, UK: CAB International. Disponível: www.cabi.org/isc [Consultado 10/11/2017].
- CABI (2012). Myriophyllum aquaticum. In: Invasive Species Compendium. Wallingford, UK: CAB International. Disponível: www.cabi.org/isc [Consultado 10/11/2017].
- Domingos, T. (2009). Promotores de alterações nos ecossistemas in “Ecossistemas e Bem estar humano - Avaliação para Portugal do Millennium Ecosystem Assessment", Escolar Editora
- Ferreira, T. (2017). Plantas Aquáticas Invasoras no Tejo. Em: 1º Encontro sobre Espécies Exóticas Aquáticas no Tejo, Alcochete, 22 março 2017. Disponível: http://www.cm-alcochete.pt/uploads/writer_file/document/3774/TFerreira.pdf [Consultado 10/11/2017]
- Marchante, H.; Morais, M.; Freitas, H; Marchante, E.(2015). Guia prático para a identificação de Plantas Invasoras em Portugal. Imprensa da Universidade de Coimbra, Coimbra.
- Marchante,H. (2012). Jacinto de água. Invasoras. Acedido em 10, novembro, 2017 em: http://invasoras.pt/gallery/eichhornia-crassipes/
- Marchante, H. (2012). Pinheirinha de água. Invasoras. Acedido em 10, novembro,2017 em: http://invasoras.pt/wp-content/uploads/2012/10/Myriophyllum-aquaticum.pdf
- http://www.icnf.pt/portal/pn/biodiversidade/patrinatur/especies/n-indig/inspect
- https://www.millenniumassessment.org/documents/document.273.aspx.pdf
2 comentários:
Olá Ana Conceição!
Tal como referiu a introdução de plantas exóticas que se tornam invasoras constitui uma das grandes ameaças à biodiversidade. São muitas vezes introduzidas por agentes naturais ou pelo ser humano, fenómeno que, como referiu, tem aumentado devido à globalização.
Muitas as plantas são introduzidas com um objetivo que devido a alterações de comportamentos permitem que estas se propaguem. Nos Açores, duas das plantas mais invasores, a conteira e o incenso, eram utilizadas para alimentar o gado e por isso a sua proliferação era controlada mas, esta utilização foi diminuindo e estas plantas ocupam cada vez mais território.
A alteração do uso dos solos com a conversão da agricultura tradicional para uma agricultura intensiva, com a utilização intensiva de adubos, questiono-me se também poderá ter contribuído para este fenómeno já que através da escorrência de águas a quantidade de nutrientes disponíveis no rio pode ter aumentado.
Apesar de ser um problema identificado a sua solução é difícil mas urgente já que ameaça todo o ecossistema.
Cumprimentos,
Isabel Campos
Ana, a gigoga fora utilizada como uma solução ecológica de tratamento do esgoto sanitário em rios e lagoas. Ocorre que com a abundância de material orgânico, a espécie se alastrou e a solução que era para ter sido ecológica se causou um transtorno. Além das espécies exóticas, são ainda fatores impulsionadores da perda da biodiversidade e da alteração dos serviços ecossistêmicos a mudança do uso do solo, alterações climáticas, sobre exploração e poluição.
Ótimo post. Abraços
Natalia
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